domingo, 28 de junho de 2015



Mad Hatter: 
"— Have I gone mad?"
Alice: 
"— I'm afraid so. You are completely crazy. But I'll tell you a secret. All the best people are."

Mad Hatter: 
"— Eu estou louco?"
Alice: 
"— Temo que sim. Você é totalmente maluco. Mas eu vou te contar um segredo. Todas as melhores pessoas são."




White e eu caminhamos pelo caminho de terra úmida, a paisagem era bela e eu não me cansava de apreciá-la, o som dos pássaros por perto deixava tudo mais agradável, até White parecia genuinamente contente em estar passeando pelos caminhos comigo.
Então as árvores grandiosas e fartas de folhas começaram a ficar mais próximas umas das outras, bloqueando a luz do sol e deixando o caminho mais escuro e sombrio que o normal, olhei de soslaio para White e seu sorriso havia desaparecido.

— White? Onde estamos? — perguntei temerosa, ele forçou um sorriso, tentando me tranquilizar.
— Entramos em outra floresta, Allin. Nada demais, assim que sairmos daqui chegaremos ao chá, não se preocupe — ele explicou calmamente. — Se bem que deveria, já estamos atrasados — ele sussurrou ao consultar mais uma vez o seu relógio de bolso.
— Você e o seu relógio — murmurei divertida, ele arqueou uma sobrancelha e acabou rindo também.
— É, uma comédia, de fato. White Rabbit e o seu relógio constantemente adiantado — falou alguém desconhecido, olhei para White confusa e ele revirou os olhos.

Paramos de andar e olhamos em volta, a procura de quem quer tivesse falado, mas não havia ninguém na floresta além de White e eu.
Ouvimos uma risada melodiosa que fez todas árvores tremerem, mas eu não fiquei com medo, eu senti vontade de rir também, a risada era contagiante e muito gostosa, quase tanto quanto risada de bebê. White permaneceu sério e levemente irritado.

— O que há, White? Não se diverte tanto quanto a senhorita? Talvez se você tentasse um pouco... — provocou a voz, olhei curiosa para White.
— Apareça de uma vez, Cat. Está assustando a senhorita Broke! — irritou-se White.
— Cat Cheshire? — perguntei surpresa, White assentiu e massageou as têmporas, como se estivesse muito estressado.
— Eu mesmo, senhorita — concordou o galante rapaz, saindo de trás de uma árvore de tronco especialmente grande.

Cat Chesire! O meu melhor amigo! Meu Deus, eu deveria imaginar, a risada dele é inconfundível.
Cat estava vestido dos pés a cabeça com um macacão felpudo listrado de cor azul e preta, sem falar no bigode que ele tinha grudado no nariz, pintado de preto, e as orelhas felinas em sua cabeça. Cat estava tão fofo que eu logo corri para abraçá-lo. Ele riu.

— Allin Broke, estou de fato surpreso com tamanha demonstração de afeto — ele falou sorridente. — Mas é bem vinda sempre que quiser um abraço.
— Obrigada. Perdoe-me, você está tão fofo, não resisti — murmurei me afastando lentamente, havia me esquecido que eu não o conhecia nesse mundo, apenas no meu mundo.
— Vou encarar isso como um elogio — ele falou pomposamente enquanto acariciava os bigodes grudados em suas bochechas.
— Allin, precisamos ir. Não temos tempo para você agora, Cat, estamos atrasados! — falou White de repente, havia me esquecido que ele estava ali.
— Ah, permita-me acompanhá-los então, White. Estou com sede e sinto falta da companhia excêntrica do March e do Mad. Sabe, faz falta a insânia daqueles dois — ofereceu-se Cat, pondo-se a andar ao nosso lado e colocando minha mão em seu braço, eu já segurava no braço de White do lado oposto.
— Sinta-se à vontade, Cat. Uma companhia a mais nos fará bem — murmurei olhando de relance para White, ele retribuiu meu olhar de esguelha e deu de ombros, mas continuou sério.
— Tanto faz, só apressem o passo, porque... 
— Estamos atrasados — falamos Cat e eu em uníssono, em seguida rimos. Desta vez White não resistiu e riu conosco.
— Touché, companheiros — rendeu-se White, agora sorridente e mais relaxado.

Continuamos andando lado a lado, a floresta foi se tornando mais clara a medida que avançávamos, e enquanto trocávamos palavras de vez em quando, eu me lembrei dos nomes que Cat havia pronunciado. March e Mad. March Hare e Mad Hattler? Será possível? Ah, meu Deus, Mad Hattler também está aqui?!

— Cat, posso fazer uma pergunta? — perguntei suavemente.
— Todas que possa existir, querida. Até mesmo as que não existem, eu permito que vocês as crie e as faça para mim. Será uma honra respondê-las — falou Cat orgulhosamente.
— Okay. Ah... Você mencionou March e Mad. Quem são esses? — perguntei sutilmente, White tossiu propositalmente.
— Você logo saberá, Allin, espere só um pouco — falou White, calando a boca de Cat sutilmente.

Eu comecei a ficar impaciente, a floresta não acabava nunca e meus pés começavam a doer de tanto andar, Cat já estava rindo do meu estresse quando White abriu um largo sorriso e anunciou:

— Hora do chá, senhorita — olhei intrigada e ele balançou a mão em direção a um pasto de grama baixa e verde, havia uma mesa enorme completamente bagunçada, cheia de bules de chá, xícaras de todos os tipos, bolos, biscoitos.
— Estão atrasados! — berrou alguém sentado à mesa, em seguida senti alguma coisa voar acima da minha cabeça, olhei para trás e vi uma xícara quebrada, ela passou de raspão pela minha cabeça, ele quase me acertou uma xícara de chá!
— Mas que por...
— Caria! — completou White, me olhando de olhos arregalados em uma advertência pelo palavrão, eu apenas ri.
— Desculpe, mas tentaram me acertar uma xícara, isso não tem cabimento — resmunguei e puxei Cat, colocando-o a minha frente, como um escudo, ele riu.
— Você terá que desviar de muitas xícaras por aqui, Allin — comentou Cat, aceitando o desafio de ser meu escudo.
— Andem, rápido, eu quero tomar chá! — apressou-nos White.

Nos aproximamos da mesa vazia, com dois lugares ocupados, olhei para os dois rapazes sentados à mesa e senti meu coração acelerar, comecei a suar e a gaguejar. Mas que merda. Mad Hattler, eu sabia que seria ele, mas não estava preparada para isso, realmente.

— Mad? March? Ah, meu Deus. Eu preciso de chá — resmunguei deixando-me cair em uma cadeira que White havia puxado para mim.
— Allin! Que prazer em vê-la! Chá, chá, chá. Aqui está o seu chá, querida! — gritou Mad, ele levantou-se da cadeira e subiu em cima da messa, correndo por entre a porcelana e a comida para chegar até mim, estendi minha xícara meio relutante e ele a encheu de chá fumegante, ele sorria largamente e me encarava com olhos arregalados, lindos olhos castanhos arregalados.
— Chá! Obrigada. — Sussurrei relutante, ainda assustada com sua correria por cima da mesa.
— Não se preocupe, Mad tende a ser apressado assim mesmo — falou Cat, ele sentou-se ao meu lado e estendeu a xícara, Mad a encheu de chá também.
— Cat Cheshire, que honra. Quanto tempo não nos vemos? Bastante, não é mesmo? — tagarelou Mad, sorri de forma afetuosa, não conseguindo me conter ao olhar para Mad.
— Estão atrasados! — gritou March e arremessou outra xícara de chá em nossa direção, dessa vez consegui desviar dela bem a tempo, Cat ficou apenas rindo da minha cara.
— Sentimos muito por isso, March. Cat nos atrasou um pouco — murmurou White, servindo-se de um bolinho de trufas.
— Ei, não foi culpa minha! Pode ir parando, senhor White — reclamou Cat, March riu de forma insana, o que me fez rir também, Mad sentou-se em uma cadeira ao meu lado e caiu na gargalhada também.
— Sabe, senhorita, pode parecer loucura, mas senti a sua falta, mesmo a senhorita nunca ter vindo nos ver antes — falou Mad, encarando-me com seu sorriso insano, semicerrei os olhos, estudando-o atentamente, então sorri enamorada, ele é lindo, mesmo fantasiado como um maluco.
— Sabe, Mad, desde que cheguei aqui eu percebi que tudo parece loucura, então não se preocupe com isso — murmurei, então levantei minha xícara e ele encostou a dele na minha, em um brinde silencioso.
— Não me preocupo mais, é fabuloso tê-la conosco, Allin — ele falou docemente, seus olhos castanhos brilharam e ele estava tão perto que eu tive de resistir ao impulso de me inclinar um pouco para beijá-lo, meu Deus, ele é tão lindo.

Ainda estávamos próximos um ao outro e nos encarando, o Mad e eu, quando ouvimos o alarde. Olhei em volta assustada com tamanho barulho, White gemeu de medo, Cat rapidamente desapareceu embaixo da mesa, March se desesperou e começou a tremer, mas conseguiu encher uma xícara de chá e fingir que estava bebendo, Mad fez o mesmo. Olhei para White, esperando algum esclarecimento, ele respirou fundo e pegou a própria xícara.

— São os caçadores da rainha vermelha, minha querida. Apenas respire e aja como se tomasse chá todos os dias com esses malucos — disse White, dando um gole em sua xícara.
— Mas... Cat está embaixo da mesa — sussurrei consternada, vi no alto do monte verde um exército de homens fantasiados de cartas de baralho marcharem em nossa direção, reprimi um gemido de pavor.
— Ele é medroso demais para segurar a onda conosco, senhorita, deixe-o onde está — falou March, ainda tremendo, seus olhos estavam vidrados no exército de cartas.
— Ah, mas que calúnia, eu só não estou apresentável para cumprimentar o nosso querido Stan — guinchou Cat de debaixo da mesa.
— Como quiser, maldito covarde — resmungou Mad.

O exército de cartas se aproximou rapidamente, seguindo-os de perto vinha um homem grande montado em um cavalo majestoso, o homem era musculoso e usava um tapa-olho sobre um cicatriz enorme em seu olho esquerdo, o reconheci como Valete de Copas, era ele quem comandava todo o exército de cartas, o sorriso dele era tão macabro que eu me arrepiei inteira e desviei o olhar dele para Mad, que estava ao meu lado.
Mad tentou sorrir para me reconfortar, mas percebi que ele estava em alerta, pronto para qualquer coisa, ele passou um braço pelos meus ombros de forma protetora antes que o tal Cavaleiro se aproximasse mais.

— Sir Stan, que honra recebê-lo em nossa mesa de chá — saudou Mad, levando a própria xícara à boca.
— É, que seja. Vim ver o que estão aprontando por aqui — respondeu o homem rudemente.
— MAS É HORA DO CHÁ!! — gritou March e arremessou uma xícara na direção do cavaleiro, mas ele desviou e a xícara acertou bem em cheio a testa de um dos guardas. Todos em volta da mesa riram, inclusive Cat, que estava embaixo da mesa.
— Seu... — praguejou o cavaleiro, olhando ameaçadoramente para March. — Ora, ora. Mas quem é essa senhorita? — os olhos dele se desviaram lentamente para mim, estremeci, Mad apertou seu braço ao redor de mim.
— Essa é a senhorita Allin Broke, ela veio nos... Hum... Nos visitar — gaguejou White, se escondendo atrás de sua xícara de chá.
— Hum... Visitar... — repetiu o cavaleiro, testando a palavra e seus conceitos. 
— Sim, a senhorita Broke veio conhecer o nosso querido país, estamos nos encarregando de apresentá-lo a ela — continuou White, tomando coragem o suficiente para não gaguejar.
— Ah, uma novidade que a rainha Vermelha vai adorar saber, uma intrusa em seu reino — falou Stan, esboçando um sorriso ameaçador, March soltou um grito esganiçado e puxou as orelhas.
— Contem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça! — gemeu March, tampando as grandes orelhas de mentira e fechando os olhos, White deu tapinhas no ombro dele, tentando acalmá-lo.
— Exatamente, meu caro Hare. Cortem-lhe a cabeça... — Stan riu, sua risada era tão esquisita que eu não resisti e tampei os ouvidos, ele fixou os olhos negros como ébano em mim, me arrepiei inteira.
— Mas el não precisa saber, afinal, a visita não é para ela — disse Mad, sua voz estava calma e séria, ele estava propondo algo a Stan.
— O que quer dizer com isso, Mad? — perguntou Stan, arqueando uma sobrancelha.
— Eu quero dizer que ela irá embora no fim do dia, assim a nossa rainha não precisará saber de sua presença. Sem problemas, sem cerimônias de decapitamento, sem trabalho para você, querido Stan — propôs Mad, Stan acariciou o queixo enquanto ponderava sobre o assunto.
— É, talvez isso seja bom para mim. Mas eu estarei a procura dela assim que o sol se por, se eu encontrá-la por aqui, levarei-a à rainha — disse Stan, fiquei petrificada e gelei.
— Não a encontrará, se encontrar, eu mesmo me prontifico para ir até a rainha e ter minha cabeça cortada — garantiu Mad, olhei-o estupefata, ele continuou encarando Stan friamente.






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